sábado, 10 de junho de 2006

Quem ganha com as perdas timorenses?

Numa altura em que os rendimentos provenientes do petróleo timorense se preparavam para ser integrados no orçamento estatal, tendo em vista um bem estruturado programa de combate à pobreza, de investimento na saúde e no bem-estar da população daquele que é um dos mais pobres países da Ásia, estala a violência no secularmente martirizado território de Timor Lorosae.
As notícias dão conta de supostos ?conflitos étnicos? dentro das forças armadas mas, a 25 de Maio, dia em que se atingiu um pico de violência só comparável ao de 1999, com nove mortos nas forças policiais timorenses e diversos feridos civis (timorenses e estrangeiros), não há registo da actuação do exército nas ruas de Dili.
Pela primeira vez, o novo Estado asiático vê-se confrontado com uma ameaça vinda do seu interior... Pelo menos, a parte visível dessa ameaça...

O inimigo está, pela primeira vez em séculos de história, dentro do próprio território e há notícias que indicam até um posicionamento de guerrilhas nas históricas montanhas de Timor-Leste, preparando-se para tempos de instabilidade que se afiguram como cada vez mais previsíveis.

A Austrália foi a primeira a responder (antes até de ser requisitada a sua intervenção) com o posicionamento de elementos da sua Marinha ao largo de Dili. E Portugal, a Nova Zelândia e a Malásia enviaram já forças militares e para-militares para controlar uma situação que o Presidente Xanana Gusmão admite ser já incontrolável apenas com os meios internos.



O conflito institucional torna-se finalmente visível também neste mesmo dia 25, quando o Presidente da República admite estar a tomar o controlo da Segurança Nacional. O Primeiro-Ministro Mari Alkatiri nega essa situação, alegando que, para que tal aconteça, o Parlamento e o Governo têm que ser auscultados antecipadamente, coisa que não terá acontecido. A jovem democracia parece estar a oscilar precisamente nos seus pilares mais fundamentais.

Os elevadíssimos níveis de desemprego e a pobreza extrema pareciam ser passageiros (aos olhos do mundo e na esperança da ONU), tendo em vista o esperado investimento estrangeiro e, acima de tudo, o rendimento obtido com a exploração dos recursos naturais do subsolo marinho. Os maiores beneficiados seriam precisamente o povo timorense, em toda a sua diversidade étnica e religiosa. Foram dados importantes passos na reconciliação nacional com vista a que isso fosse uma realidade. Tendo isto em conta, a quem realmente interessa a destabilização?



O clima de violência trará uma enorme quebra no investimento estrangeiro e impossibilitará, indubitavelmente, a equitativa distribuição da riqueza pela totalidade da população... Mas, com certeza, aumentará a necessidade de compra de armas no território... Certamente uma maior parte do orçamento governamental terá que ser gasto em segurança, na ?re-re-reconstrução? daquilo que voltar a ser destruído pela onda de violência... E no entanto, não parece haver qualquer tipo de dúvida de que os lucros das entidades externas que exploram as reservas petrolíferas se manterão estáveis e com tendência a aumentar...

Neste quadro, a quem interessará o clima de instabilidade e violência instalados? Na minha óptica, ao povo timorense não será certamente!
O meu sincero desejo é de que não se repita o sucedido na Nigéria, no Iraque ou noutros países onde a maior riqueza que lhes poderia ser ?concedida? se transformou na sua maior desgraça. Timor é o exemplo perfeito de como urge uma aprendizagem com os erros da história para que esta não se repita nas suas formas mais abomináveis.



Portugal e a restante comunidade internacional continuam a acreditar nesta jovem democracia. As forças obscuras que se movem por detrás desta conjuntura não podem sair vencedoras. Quem perderá com isso não serão só os timorenses, seremos, mais uma vez, todos Nós!